O tempo não se vê.
O tempo não se toca.
O tempo age irreversivelmente nas nossas sensações e percepções visuais.
O tempo traça no espaço conexões indiciárias. Imprime na pele, na alma e na matéria: marcas, memórias e signos. Oculta e espelha redes de relações misteriosas e antagônicas.
Considerando que a CASA é matéria, pode-se pontuar que ela também é refúgio, abrigo e casulo, podendo ecoar estabilidade ou instabilidade das relações das pessoas que nela habitaram ou habitam. Em síntese, a CASA é um território construído onde se alicerçam e se deslocam distintas memórias através dos tempos.
Sob esta óptica, pontuou-se como objeto de investigação no semestre 2004.2, durante o curso da disciplina Seminário s/ Temas selecionados: PROCESSOS CRIATIVOS, inserido no Programa de Pós Graduação em Artes Visuais da EBA/UFBA, a CASA 401 da Ladeira da Barra, como site especifc , que hoje abriga a Aliança Francesa.
Visualizamos nela a proximidade das águas, os espaços existentes com marcas da história e da contemporaneidade, como espelham o fragmento pintado na sala esquerda da Galeria, as escadas e pontes construídas de metal em contrapondo a antiga escadaria de madeira, paredes erguidas, que contrastam com as velhas alvenarias aparentes.
Essas percepções, levou-nos também a memorizar o Hotel Colonial Ladeira da Barra e conseqüentemente, o artista Pancetti poeta e pintor, que nele viveu.
As pesquisas feitas e vivenciadas em projetos, anotações e documentação fotográfica, trouxeram a tona propostas visuais através dessas buscas encontradas e recolhidas, que como toda temporalidade são irrepetíveis, mas sinalizaram uma potencialidade latente de reflexão.
Tem-se, então, nessa mostra à obra, que reivindica uma autonomia estética, e o texto, que, diante dela, opta pela tentativa de configurar-se num “testemunho conceitual” da sua construção. Criamos assim, redes tramadas e destramadas, estabelecendo-se relações entre a presença e a ausência com projeções que procedem à ordem dos sonhos, ressonâncias visuais, como espíritos que agora habitam o tempo presente.
As metáforas visuais apresentadas aqui, na Galeria da Aliança Francesa, refletem em linguagens híbridas: pinturas sobre parede e fibras, cartas, fotografias, objetos, cal, água, pigmento, ferrugem e virtualidade, ecoadas em oficinas de Arte – Educação.
Sim, Mili Genestreti, Ana Maria Fraga e Isabel Gouvêa , dialogamos com espaços invisíveis da CASA 401 , entrelaçamos conceitos e matérias, navegamos no design de Tiago Laurentino Santos, nas oficinas criadas por Ana Paula Trindade de Albuquerque e na virtualidade de Marilei Catia Fiorelli, que nos faz conectar com o universo em outras margens.
Sim, queridos mestrandos , A ponte que sonhava atravessar o mar, existe Sob um véu de cal, colocando A mesa posta em Memórias submersas...
Agora, só nos resta adentrar e compartilhar a CASA 401 povoada com nossas ações visuais.
Viga Gordilho
artista – curadora
Profª Dra . da disciplina PROCESSOS CRIATIVOS - PPGAV da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia
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